segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Mandamentos intocáveis

 Côn. José Geraldo Vidigal*
A celeuma provocada por notícias advindas durante 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos em Roma atinentes a homossexualismo marginalizou uma verdade fundamental, ou seja, que os mandamentos de Lei Divina são intocáveis.
 
A discussão sobre o problema dos chamados gays sob o ponto de vista da caridade, de um acolhimento fraterno é um aspecto, outro completamente diferente é que a Igreja jamais poderá acobertar o pecado. Portanto, não há como aceitar uma convivência pecaminosa entre os homossexuais. Que possa haver uma amizade de apoio entre tais pessoas humanas é um caso a ser estudado em profundidade, mas não há nunca como passar recibo a qualquer atitude que viole o sexto e o nono mandamentos do Decálogo. Esta verdade deve ser firmada claramente e sem subterfúgios e cumpre não se dar fé às notícias manipuladas e veiculadas pela imprensa. Há uma passagem de São Paulo na carta aos Coríntios que não pode ser esquecida: “ Não vos enganeis: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os que se dão à embriaguez, nem os maldizentes, os ladrões possuirão o reino de Deus” (6,9-10). Toda atitude negativa, porém, que caracteriza a homofobia, o que pode levar e tem levado a agressões condenáveis, deve ser combatida. Em tudo isto, contudo, vale o preceito de Cristo: “Seja o vosso sim, sim e o vosso não, não” (Mt 5,37). Não é possível a simbiose entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. O que é preciso no mundo de fantasias sexuais no qual se vive é viver em plenitude o significado da castidade. Esta, aliás, vale para os solteiros, os casados e, evidentemente, para todas as pessoas consagradas a Deus na vida religiosa. Jesus afirmou: “Bem-aventurados os puros porque eles verão a Deus” (Mt 5, 8). Em síntese o sexto mandamento prescreve a pureza de corpo, de mente e de coração. As tendências carnais não são em si nem humilhantes, nem degradantes, mas devem ser direcionadas segundo os planos divinos. O sexo foi criado para o casamento, ou seja, para a propagação da espécie. Tal a ordem de Deus: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,28). O homem participa do poder criador de Deus. A desordem introduzida pelo pecado original, porém, causou as paixões desregradas que oprimem e subjugam. Daí o domínio da concupiscência e o império da irracionalidade. Há então um liame profundo entre a temperança e castidade, que leva à observância do sexto mandamento. A castidade significa a integração perfeita da sexualidade na pessoa e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual. O mundo corporal e biológico deve se integrar ao ser espiritual, à pessoa humana que é um corpo enformado pela alma. Há três estados de castidade: a virginal, ou seja, as dos que fazem votos de castidade perfeita e jamais pecaram sexualmente; a matrimonial, própria das pessoas casadas e a penitente, isto é, a dos que, tendo perdido a virgindade a recuperam pela penitência e sabem reparar os seus pecados com o firme propósito de emenda. A temperança submete o instinto à razão e conduz à castidade. Trata-se da continência ou governo de si mesmo. É uma luta de toda a vida. É um esforço pessoal ininterrupto na busca da santidade existencial. A pudicícia é a guarda da castidade e é um sentimento de vergonha, de mal-estar, gerado pelo que pode ferir a decência, a honestidade ou a modéstia; pejo diante do que fere o decoro. Portanto, trata-se não de negar, mas de regular a sexualidade. São aspectos basilares o senso da desonra, dado que o homem é um ser racional, e o senso do pudor, uma vez que o batizado é o Templo do Divino Espírito Santo. Partes potenciais da temperança e castidade são o decoro no porte e nos gestos, o equilíbrio nas diversões, que não devem ser torpes, e a modéstia nas vestes e nos enfeites. O sexto mandamento proíbe todo pecado de luxúria, de busca de prazeres carnais fora do matrimônio; os pecados internos, a saber, maus pensamentos, maus desejos (Mt 15,19. 27-28). Além disto, proíbe todos os atos impudicos: olhares, beijos, carícias, conversas que excitam e levam ao pecado, bem como as leituras inconvenientes, os espetáculos impuros, como determinadas danças, a concubinagem, o estupro, o incesto, a masturbação, o homossexualismo, a sodomia, a bestialidade, as perversões sexuais, a luxúria em geral, ou seja, desejo do prazer, a fornicação, isto é, a união carnal entre sexos opostos, a pornografia, a prostituição. Os remédios espirituais são a oração; viver na presença de Deus; fuga das ocasiões de pecado; mortificações; evitar toda ociosidade que é a mãe de todos os vícios. Deste modo se pratica a castidade que é o esplendor das almas fortes, corajosas e amantes da virtude. A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana na unidade de seu corpo e de sua alma e, por isto mesmo, não pode ser supressa, mas tem que ser governada com a graça divina.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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