sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Um dia depois do confronto, oposição decide boicotar reuniões com Renan

Ronaldo Caiado vai ao Supremo contra atitude de Renan 
- Ailton de Freitas / Agência O Globo
Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) vai recorrer ao STF contra o acordão para cargos da Mesa. 

POR MARIA LIMA / CRISTIANE JUNGBLUT.
BRASÍLIA — Um dia depois do bate-boca entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), o clima de guerra permaneceu no Senado. A oposição já decidiu que vai boicotar reuniões com Renan. E, com disposição de não dar “nem um dia de trégua” a Renan, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), vai impetrar um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal contra o acordão patrocinado pelo PMDB, PT e outros partidos da base que deixou de fora dos cargos da Mesa diretora o PSDB, o PSB e DEM.

Caiado alega que no confronto que levou ao mais duro embate entre Renan e a oposição na quarta-feira, ele violou dois princípios constitucionais: o critério da proporcionalidade medido pelo tamanho das bancadas eleitos, e o direito das minorias de integrar a Mesa.

A próxima batalha é a divisão das comissões temáticas entre os partidos. A proposta do PSDB e do DEM é reunir os líderes dos partidos para decidir os comandos das comissões temáticas e a pauta de votações sem a presença de Renan. Geralmente, as reuniões do colegiado ocorrem no gabinete do presidente da Casa.

Sem meias palavras, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que Renan formou uma Mesa para "se blindar" de futuros problemas. Ele não citou diretamente a Operação Lava Jato, mas Renan já foi citado e há temores de que novas denúncias ocorram.

— Quem acha que o Renan fez um movimento de ataque ontem (quarta-feira)... Ele fez um movimento de defesa. Na batalha de ontem, ele montou as trincheiras para a guerra que está por vir. Não há mais como fazer negociações na Presidência. Renan optou por ser presidente dos 49 senadores que o votaram nele — disse Cássio Cunha Lima.

No caso das comissões, o PSDB tem direito a fazer a terceira escolha e deve ficar com a Comissão de Infraestrutura. Apesar de Renan ter anunciado no final da sessão de quarta-feira que as escolhas serão feitas pelos líderes e que se respeitará o critério da proporcionalidade, ninguém acredita que o processo será pacífico.

— O Renan praticou dois atentados e dois crimes imperdoáveis no Parlamento: descumpriu a proporcionalidade ditada pelo voto do povo e desqualificou os líderes. O tratamento que deu aos líderes é inaceitável e nosso único caminho agora é o Supremo — disse Caiado.

O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que o clima é "zero" para dialogar com Renan.

— É um clima inédito no Senado, que vai produzir muitas situações difíceis. Foi uma truculência sem limites e isso vai gerar sequelas. O clima é zero para fazer reuniões na Presidência da Casa. A civilidade vai permanecer, mas as relações políticas estão definitivamente abaladas — disse Agripino.

Caiado avisou também que não tem mais clima para os líderes da oposição. A avaliação dos líderes da oposição é que o confronto violento desta terça-feira vai trazer mais desgaste para Renan. Diante da postura truculenta transmitida pelo TV Senado, dizem, qualquer um que lutar com Renan estará do lado certo aos olhos da sociedade. Ao seu lado, na Mesa ontem, o senador Fernando Collor (PTB-AL) deu sustentação para a chapa composta só com senadores da base que votaram em Renan.

O ex-líder do PSDB senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) disse que essa postura de Renan de se blindar na Mesa só tem uma explicação: preocupação com os desdobramentos da operação Lava-Jato.

— Foi uma manobra defensiva. Vai ser duro o dia a dia no Senado com essa nova direção, comandada pela dupla Renan/Collor, e com o PT marchando atrás como um carneirinho — disse o ex-líder.

A disposição agora é fazer o dia a dia de Renan “um inferno”. De sua parte, Caiado promete usar e abusar de sua maior especialidade: a obstrução regimental. E espera que os 30 senadores que votaram no adversário de Renan, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), engrossem as fileiras. Sem clima para participar das reuniões de líderes comandadas por Renan, ele diz que as sessões de votação serão discutidas a exaustão, madrugada a dentro.

— Como fazer acordo de votação nessa situação? Renan ignorou e posou de tirano, ironizando e rindo de todas as tentativas de conciliação. Então toda sessão agora vai começar do zero. Sem pauta de consenso. Vamos discutir até a ata da sessão anterior. Não tem acordo. Não tem trégua — avisou Caiado.

O líder do PSB no Senado, João Capiberibe (AP), também reclamou publicamente da sessão.

— Foi algo triste para o Parlamento — disse Capiberibe.

No PMDB, a avaliação de caciques foi de que Renan exagerou. O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), ficou numa posição constrangedora, porque isso pode prejudicar eventuais acordos para sua eleição em 2017. O acordo é que ele sucederia Renan. Além disso, como líder, ele terá que conversar com os demais partidos.

— Sobrou para mim — brinca Eunício.

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