sexta-feira, 6 de maio de 2016

“O momento nacional” – por Dom Murilo Krieger


Publicado por cnbbne3 em 3, maio 2016
É difícil imaginar um momento da história de nosso país mais delicado do que este que estamos vivenciando, marcado por uma crise ética, política, econômica e institucional. Não que nossa história tenha sido sempre pacífica. É que, em tempos de internet, as notícias correm rápidas, se multiplicam de forma surpreendente e chegam, na hora, ao conhecimento das pessoas em qualquer canto e recanto do território nacional. Assim, também as reações às notícias são imediatas. As redes sociais que o digam.

Não falta, em horas assim, quem busque aumentar a inquietação ou mesmo causar confusão no meio do povo com notícias desencontradas e, até, apocalípticas. Faz bem, em tais momentos, uma palavra de orientação. Assim agiam os profetas no Antigo Testamento: sua ação ocorria particularmente em situações de crise. Era comum, contudo, serem depois apedrejados, porque nem sempre diziam o que o povo queria ouvir; diziam o que julgavam ser seu dever anunciar.

Na última assembleia da CNBB, realizada no mês passado, nós, bispos, sentimos, necessidade de divulgar uma Declaração que refletisse nossas preocupações de pastores e, ao mesmo tempo, que apontasse novos caminhos.

Dessa Declaração, ressalto alguns pontos:

1º – O país vinha vivendo “um dos mais longos períodos democráticos da sua história republicana”. Para isso, muito contribuíram o movimento “Diretas Já!”, a elaboração e aprovação da nova Constituição, a experiência das primeiras eleições diretas e uma série de mobilizações pacíficas, levadas a efeito por parcela considerável da população.
2º – Nos últimos meses, têm vindo à tona uma série de escândalos de corrupção. “São cifras que fogem à compreensão da maioria da população. Empresários, políticos, agentes públicos estão envolvidos num esquema que, além de imoral e criminoso, cobra seu preço.”
3º – Quem paga pela corrupção são os pobres. “As suspeitas de corrupção devem continuar sendo rigorosamente apuradas. Os acusados sejam julgados pelas instâncias competentes, respeitado o seu direito de defesa; os culpados, punidos, e os danos, devidamente reparados, a fim de que sejam garantidas a transparência, a recuperação da credibilidade das instituições e restabelecida a justiça.”
4º – “A forma como se realizam as campanhas eleitorais favorece um fisiologismo que contribui fortemente para crises como a que o país está enfrentando neste momento.”
5º – “A crise atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva participação popular, favoreça a autonomia dos Poderes da República, restaure a credibilidade das instituições, assegure a governabilidade e garanta os direitos sociais.”
6º – “O bem da nação requer de todos a superação de interesses pessoais, partidários e corporativistas. A polarização de posições ideológicas, em clima fortemente emocional, gera a perda de objetividade e pode levar a divisões e violências que ameaçam a paz social.”
7º – “Manifestações populares pacíficas contribuem para o fortalecimento da democracia. Os meios de comunicação social têm o importante papel de informar e formar a opinião pública com fidelidade aos fatos e respeito à verdade.”
8º – “Acreditamos no diálogo, na sabedoria do povo brasileiro e no discernimento das lideranças na busca de caminhos que garantam a superação da atual crise e a preservação da paz em nosso país.”

A Declaração terminou conclamando “o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade” e pedindo “a oração de todos pela nossa Pátria”.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

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