sábado, 4 de fevereiro de 2017

Papa: “Os divorciados não estão excomungados, fazem parte da Igreja”

Adicionar legenda


Pontífice diz ainda que mesmo começando um novo relacionamento continuam na Igreja.
MARÍA SALAS ORAÁ
“A Igreja não tem as portas fechadas para ninguém.” É a frase que o papa Francisco usou para concluir, nesta quarta-feira, sua audiência geral, a primeira depois de mais de um mês sem realizar nenhuma por causa do verão europeu. Em sua busca por não excluir ninguém da Igreja Católica e sua tentativa de abri-la a novas formas de família, Jorge Bergoglio fez referência aos divorciados que voltaram a se casar, pessoas que “não estão excomungadas, como alguns pensam”, mas que “sempre serão parte da Igreja”.

Uma abertura que o próprio Bergoglio afirma ser contraditória e que levantaria críticas dentro da própria Igreja, porque a doutrina sustenta que as pessoas que estão divorciadas contradizem o sacramento do matrimônio e, portanto, estão excomungadas. No entanto, Francisco defendeu que era preciso “manifestar a disponibilidade” para eles. Afirmou ser consciente de que “esta situação contradiz o sacramento cristão”, mas apelou para que a Igreja atue como uma “mãe que procura o melhor” e não exclua ninguém.

“É preciso uma recepção calorosa e fraterna, no amor e na verdade, para essas pessoas que, na verdade, não estão excomungadas, como alguns pensam: sempre serão parte da Igreja”, afirmou.

Na verdade, argumentou que o risco de deixar de fora da Igreja os divorciados é negligenciar as crianças pequenas, que ficariam sem uma educação cristã. E perguntou: “Como podemos pedir a estes pais que eduquem seus filhos na vida cristã se estão distanciados da vida da comunidade?”. A Igreja é, para Bergoglio, “a casa paterna na qual há espaço para todos” e da qual os divorciados também “podem fazer parte”.

É o primeiro Papa que afirma que os divorciados não devem ser afastados da comunhão, uma ideia que Francisco tinha sugerido em outras ocasiões. De fato, em junho passado, chegou a admitir que, às vezes, a separação de um casamento pode ser “moralmente necessária” quando acontece para proteger o cônjuge mais fraco ou crianças pequenas. Em seguida, recusou-se a chamar este tipo de situações familiares como “irregulares” e pediu que a Igreja se dedique a ajudar e acompanhar essas famílias.

“Quando os adultos perdem a cabeça, quando se pensa apenas em si mesmo, quando o pai e a mãe se machucam, a alma das crianças sofre muito, sente o desespero”, argumentou Jorge Bergoglio para defender que as separações podem ser necessárias em certos casos. Nessas situações, lembrou, “muitas vezes, as crianças se escondem para chorar sozinhos”, um sofrimento que o bispo de Roma gostaria de evitar e cuja solução pode passar pela separação.

Da mesma forma que sobre os divorciados, Francisco demonstrou, em outras ocasiões, sinais de abertura em relação às mulheres e aos homossexuais. Sobre as mulheres afirmou que “é necessário aumentar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja”, enquanto que sobre os homossexuais se perguntou: “Quem sou eu para julgar os gays?”. Por isso, Bergoglio defende que a Igreja não deve fazer uma “interferência espiritual” na vida pessoal, porque “Deus na criação nos fez livres”. O trabalho da Igreja deve ser, de acordo com o Papa, o de acompanhar todas as pessoas, sem julgar ou excluir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário